sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Exercício Físico e Câncer de Prostáta




O câncer de próstata é a neoplasia do homem de terceira idade, já que cerca de três quartos dos casos no mundo acometem indivíduos acima dos 65 anos. Uma das possibilidades para o aumento da incidência - 141% entre 1979 e 2000 - é um rastreio mais eficiente pelo uso cada vez mais freqüente da medida do antígeno prostático específico (PSA). Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (INCa)(1), essa neoplasia é a sexta causa mais freqüente de novos casos em todo o mundo e a terceira entre as neoplasias que acometem os homens. No Brasil, em 2003, representou a segunda maior taxa de mortalidade, ultrapassada apenas pelo câncer de pulmão, que persiste como a principal causa de mortalidade por neoplasia. Apesar dos números, a mortalidade por esse tipo de câncer pode ser considerada relativamente baixa, especialmente quando o diagnóstico é precoce, o que mostra, em parte, seu bom prognóstico, com sobrevida média mundial em cinco anos estimada em 58%. Segundo algumas pesquisas, dieta rica em gordura animal, carne vermelha e obesidade representam fatores de risco para a mortalidade por câncer de próstata.
Hoje em dia há o consenso de que o exercício físico regular deve ser uma das ferramentas na prevenção primária e secundária de uma série de doenças, estando bem estabelecido seu papel no tratamento das doenças cardiovasculares. No entanto um estudo clássico publicado por Myers et al.(2) demonstrou que com uma melhora na condição aeróbica do indivíduo da ordem de 1 MET (sigla para equivalente metabólico, representa o gasto energético na posição de repouso em função do peso corporal) é possível diminuir em cerca de 12% a mortalidade em cinco anos por todas as causas. Nesse contexto, acredita-se que o exercício físico regular tenha papel relevante tanto na prevenção como no tratamento de alguns tipos de câncer. Em alguns casos isso já está bem estabelecido, como no câncer de mama, no qual estudos epidemiológicos observaram, repetidamente, redução no risco relacionado com níveis aumentados de atividade física(3). Enquanto diversas pesquisas foram realizadas na tentativa de conhecer os principais fatores de risco para o câncer de próstata, e, além disso, determinar quais deles são modificáveis, apenas há pouco tempo o papel do exercício físico regular foi estudado. Dados recentes contribuem para sugerir que o exercício físico age de modo protetor, reduzindo o risco de aparecimento do câncer de próstata. Por exemplo, pesquisadores da Universidade de Stanford, nos EUA, listaram em documento recente(4) os mecanismos pelos quais o exercício físico afetaria o aparecimento do câncer de próstata:
  • alterações hormonais: como o câncer de próstata é hormônio-sensível e os androgênios estariam envolvidos como fatores de crescimento para a doença, uma forma de combatê-la seria bloqueando ou inibindo a atuação desses hormônios. Nesse caso o papel do exercício físico seria atuar reduzindo os níveis de testosterona;
  • fortalecimento do sistema imunológico: estudos mostraram que pode ocorrer melhora no sistema imunológico mediada pelo exercício físico, com aumento do número e da capacidade das chamadas natural killer cells, mudanças adicionais em macrófagos e citocinas;
  • prevenção da obesidade: tem sido proposto que um aumento na gordura corporal pode contribuir para maior risco de câncer de próstata pelo fato de a gordura servir como depósito para potenciais carcinógenos, além de diminuir os níveis de proteínas séricas que se ligam à testosterona, reduzindo os seus níveis circulantes. A função do exercício seria atuar indiretamente, combatendo a obesidade;
  • geração de espécies reativas de oxigênio (EROs): o exercício agudo pode promover o aparecimento de radicais livres, porém o exercício físico regular induz a produção de enzimas que protegem contra o estresse oxidativo, como, por exemplo, a superóxido dismutase.
 Além da importância que vem sendo reconhecida na prevenção do aparecimento e no combate aos fatores de risco para desenvolvimento do câncer de próstata, o exercício físico atua também melhorando a qualidade de vida dos portadores da doença e combatendo alguns efeitos colaterais do tratamento. Monga et al.(5) demonstraram que o exercício melhorou a qualidade de vida e diminuiu a fadiga de pacientes portadores de câncer de próstata que estavam sendo tratados com radioterapia. Segundo a pesquisa, o grupo submetido ao programa de exercícios apresentou, além da prevenção à fadiga, melhora na flexibilidade, na condição aeróbica, na força muscular e na qualidade de vida como um todo.
Além disso, outros pesquisadores já haviam demonstrado que o exercício físico previne a perda mineral óssea causada por efeito do tratamento com deprivação hormonal androgênica(6). No sentido de estabelecer a função e a prescrição mais apropriada da atividade física, definitivamente, no combate e no tratamento do câncer de próstata, pesquisas estão sendo realizadas com desenhos mais controlados, no sentido de refinar os modelos biológicos já existentes e, assim, incluir a redução do câncer de próstata na já enorme lista dos benefícios do exercício físico.
Bibliografia recomendada 
1. INCA - Instituto Nacional de Câncer. Disponível em:<http://www.inca.gov.br/estimativa/2008/index. asp link=conteudo_view.asp&ID=5>. Acesso em: jul 2008.
 2. Myers J, Prakash M, Froelicher V, Partington S, Atwood E. Exercise capacity and mortality among men referred for exercise testing. N Engl J Med 2002; 346(11): 793-801.
 3. Gammon MD, John EM, Britton JA. Recreational and occupational physical activities and risk of breast cancer. Journal of the National Cancer Institute 1998; 90(2): 100-16.
 4. Torti DC, Matheson GO. Exercise and prostate cancer. Sports Medicine 2004; 34(6): 363-9.
5. Monga U, Garber SL, Thornby, et al. Exercise prevents fatigue and improves quality of life in prostate cancer patients undergoing radiotherapy. Arch Phys Med Rehabil 2007; 88: 1416-22.
 6. Segal R, Reid R, Courneya K, et al. Resistance exercise in men receiving androgen deprivation therapy for prostate cancer. J Clin Oncol 2003; 21(9): 1653-9.

Nenhum comentário:

Postar um comentário